quinta-feira, junho 05, 2008

A minha alma partiu-se como
um vaso vazio
Caiu pela escada excessivamente abaixo
Caiu das mãos da criada, descuidada caiu,
e eu fiz-me em mais pedaços que a loiça que havia no vaso.

Fiz barulho na queda
como um vaso que se partia
E os deuses que há
debruçam-se da escada para ver o que a criada fez de mim
Não se zanguem com ela.
São tolerantes com ela.
Asneira? Impossível? Sei lá!
Tenho mais sensações do que tinha quando me sentia eu.

A minha alma partiu-se
como um vaso vazio
Caiu pela escada excessivamente abaixo

E os deuses que há
debruçam-se da escada e sorriem à criada
Não se zanguem com ela.
São tolerantes.

A minha alma partiu-se
como um vaso vazio caiu,
partiu-se, caiu
O que era eu - um vaso vazio?

Alastra a escadaria atapetada de estrelas
Ao fundo um caco brilha entre os astros
A minha obra? A minha alma principal?A minha vida?
E os deuses olham-na por não saber por que ficou ali...

Álvaro de Campos

0 Comentários:

Enviar um comentário

Subscrever Enviar feedback [Atom]

<< Página inicial