terça-feira, setembro 25, 2007

Voz, Amália de Nós

Fiz dos teus cabelos a minha bandeira
Fiz do teu corpo o meu estandarte
Fiz da tua alma a minha fogueira
E fiz, do teu perfil, as formas de arte

Fiz das tuas lágrimas a despedida
fiz do teu braço a minha anca
dei o teu sentido à minha vida
E o grito deu-o ao nascer de uma criança

Todos nós temos Amália na voz
E temos na sua voz
A voz de todos Nós

Dei o teu nome à minha terra
Dei o teu nome à minha arte
A tua vida à primavera
A tua voz à eternidade

Todos Nós temos a Amália na Voz
E temos na sua Voz
A voz de todos Nós

A tua voz ao meu destino
O teu olhar ao horizonte
dei o teu canto à marcha do meu hino
A tu voz à minha fonte

Todos nós temos a Amália na Voz
E temos a na sua voz
A voz de todos nós

Dei o teu nome à minha terra
Dei o teu nome à minha arte
A tua vida à primavera
A tua voz à eternidade


António Variações

quarta-feira, setembro 19, 2007

Transforma-se o amador na cousa amada

Transforma-se o amador na cousa amada,
Por virtude do muito imaginar;
Não tenho logo mais que desejar,
Pois em mim tenho a parte desejada.

Se nela está minha alma transformada,
Que mais deseja o corpo de alcançar?
Em si somente pode descansar,
Pois consigo tal alma está liada.

Mas esta linda e pura semideia,
Que, como o acidente em seu sujeito,
Assim co'a alma minha se conforma,

Está no pensamento como ideia;
[E] o vivo e puro amor de que sou feito,
Como matéria simples busca a forma.

Luís Vaz de Camões

quarta-feira, setembro 05, 2007

Respiro o teu corpo

Respiro o teu corpo:
sabe a lua-de-água
ao amanhecer,
sabe a cal molhada,
sabe a luz mordida,
sabe a brisa nua,
ao sangue dos rios,
sabe a rosa louca,
ao cair da noite
sabe a pedra amarga,
sabe à minha boca.

Eugénio de Andrade