quarta-feira, novembro 12, 2008

Soneto Do Maior Amor

Maior amor nem mais estranho existe
Que o meu, que não sossega a coisa amada
E quando a sente alegre, fica triste
E se a vê descontente, dá risada.

E que só fica em paz se lhe resiste
O amado coração, e que se agrada
Mais da eterna aventura em que persiste
Que de uma vida mal-aventurada.

Louco amor meu, que quando toca, fere
E quando fere vibra, mas prefere
Ferir a fenecer – e vive a esmo

Fiel à sua lei de cada instante
Desassombrado, doido, delirante
Numa paixão de tudo e de si mesmo.


Vinicius de Moraes

terça-feira, novembro 11, 2008

Soneto da Fidelidade

De tudo ao meu amor serei atento
Antes, e com tal zelo, e sempre,e tanto
Que mesmo em face do maior encanto
Dele se encante mais meu pensamento.

Quero vivê-lo em cada vão momento
E em seu louvor hei de espalhar meu canto
E rir meu riso e derramar meu pranto
Ao seu pesar ou seu contentamento

E assim, quando mais tarde me procure
Quem sabe a morte, angústia de quem vive
Quem sabe a solidão, fim de quem ama

Eu possa me dizer do amor (que tive):
Que não seja imortal, posto que é chama
Mas que seja infinito enquanto dure.

Vinicius de Moraes

Dia de S. Martinho

Martinho era soldado
Do grande Império Romano,
Fazia sua ronda normal
Mas sempre com olhar humano

Noite de tempestade fazia
Martinho gelado estava,
Ao longe um mendigo tremia
Seu corpo depressa gelava.

Martinho ao ver tal situação
Foi ter com o mendigo doente.
Surpreendente foi a sua reacção,
Metade da sua capa deu ao carente.

Com frio Martinho ficou
Mas o seu humano coração
Com a medida que tomou
Bem merecia uma benção.

Martinho voltava ao quartel
Consciente que tinha feito bem,
E seus olhos de mel
Felizes ficaram também.

Mas, de repente, a tempestade
Estava rapidamente a passar.
Apareceu um Sol de liberdade
Calor Martinho passou a gozar.

Martinho ao chegar então
Uma imagem de Deus viu,
Deus benzeu seu coração
E a Martinho obrigado pediu.

Martinho ao viver tal situação
Deixou o exército e converteu-se.
Passou a ser fiel cristão
E a sua alma enriqueceu-se.

Para um convento Martinho partiu
Em oração eternamente ficou,
Pelos pobres ele sempre pediu
Os carenciados ele muito amou.

Todos os anos a 11 de Novembro
O Sol volta por Martinho,
Não aparece a chuva de Dezembro
Mas sim um clima quentinho.

Martinho é Santo verdadeiro
Que protege os coitados,
Continua o mesmo cavaleiro
Que amou todos os carenciados.

DSF