quinta-feira, junho 19, 2008

O Livro dos Amantes II

Harmonioso vulto que em mim se dilui.
Tu és o poema
e és a origem donde ele flui.
Intuito de ter. Intuito de amor
não compreendido.
Fica assim amor. Fica assim intuito.
Prometido.

Natália Correia

domingo, junho 15, 2008

Sonho

Pelo sonho é que vamos,
Comovidos e mudos.
Chegamos? Não chegamos?
Haja ou não haja frutos,
Pelo sonho é que vamos.
Basta a fé no que temos.
Basta a esperança naquilo
Que talvez não teremos.
Basta que a alma demos,
Com a mesma alegria,
Ao que desconhecemos
E ao que é do dia a dia.
Chegamos? Não chegamos?
- Partimos. Vamos. Somos.

Sebastião da Gama

sábado, junho 07, 2008

Vício de ti

Amigos como sempre dúvidas daqui pra frente
sobre os seus propósitos
é difícil não questionar.
Canto do telhado para toda a gente ouvir
os gatos dos vizinhos gostam de assistir.

Enquanto a musica não me acalmar
não vou descer, não vou enfrentar
o meu vício de ti não vai passar
e não percebo porque não esmorece
ao que parece o meu corpo não se esquece.

Não me esqueci, não antevi, não adormeci, o meu vício de ti
Não me esqueci, não antevi, não adormeci, o meu vício de ti

Levei-te à cidade, mostrei-te ruas e pontes
sem receios atrai-te as minhas fontes
por inspiração passamos onde mais ninguém passou
ali algures algo entre nós se revelou.

Enquanto a música não me acalmar
não vou descer, não vou enfrentar
o meu vício de ti não vai passar
e não percebo porque não esmorece
será melhor deixar andar?

Não me esqueci, não antevi, não adormeci, o meu vício de ti
Não me esqueci, não antevi, não adormeci, o meu vício de ti
Não me esqueci, não antevi, não adormeci, o meu vício de ti
Não me esqueci, não antevi, não adormeci, o meu vício de ti

Eu canto a sós pra cidade ouvir
e entre nós há promessas por cumprir
mas sei que nada vai mudar
o meu vício de ti não vai passar, não vai passar...

Mesa

quinta-feira, junho 05, 2008

Já Bocage não sou!... À cova escura
Meu estro vai parar desfeito em vento...
Eu aos céus ultrajei! O meu tormento
Leve me torne sempre a terra dura.

Conheço agora já quão vã figura
Em prosa e verso fez meu louco intento.
Musa!... Tivera algum merecimento,
Se um raio da razão seguisse, pura!

Eu me arrependo; a língua quase fria
Brade em alto pregão à mocidade,
Que atrás do som fantástico corria:

Outro Aretino fui... A santidade
Manchei!... Oh! Se me creste, gente ímpia,
Rasga meus versos, crê na eternidade!


Bocage
A minha alma partiu-se como
um vaso vazio
Caiu pela escada excessivamente abaixo
Caiu das mãos da criada, descuidada caiu,
e eu fiz-me em mais pedaços que a loiça que havia no vaso.

Fiz barulho na queda
como um vaso que se partia
E os deuses que há
debruçam-se da escada para ver o que a criada fez de mim
Não se zanguem com ela.
São tolerantes com ela.
Asneira? Impossível? Sei lá!
Tenho mais sensações do que tinha quando me sentia eu.

A minha alma partiu-se
como um vaso vazio
Caiu pela escada excessivamente abaixo

E os deuses que há
debruçam-se da escada e sorriem à criada
Não se zanguem com ela.
São tolerantes.

A minha alma partiu-se
como um vaso vazio caiu,
partiu-se, caiu
O que era eu - um vaso vazio?

Alastra a escadaria atapetada de estrelas
Ao fundo um caco brilha entre os astros
A minha obra? A minha alma principal?A minha vida?
E os deuses olham-na por não saber por que ficou ali...

Álvaro de Campos